A taxa básica de juros dos EUA e as consequências para o Brasil
Federal Reserve anuncia decisão nesta semana. Especialistas fazem projeções.
O mercado aguarda com expectativa a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), grupo de membros do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, que acontece na próxima quarta-feira (16). Durante o encontro, que termina na quinta-feira (17), o comitê vai anunciar se aumenta ou não a taxa básica de juros nos EUA, que hoje é 0,25%.
A reunião é importante para economias de todo mundo, em especial para os chamados países emergentes, caso do Brasil. Embora a elevação da taxa seja esperada, não se sabe se ocorrerá já nesta reunião.
Indícios de que a economia americana está voltando a crescer geraram expectativas pelo aumento dos juros. Os dois principais fatores que o FOMC deve levar em conta para decisão são os índices de inflação e de desemprego nos EUA. Leonardo França, economista da Rosenberg Associados, calcula uma chance entre 20 e 30% de que se efetue a elevação. "O desempenho da economia americana, principalmente em relação ao emprego, parece suficiente para haver um aumento", afirma ao avaliar os riscos da decisão.
Na quarta-feira (9), o Departamento do Trabalho dos EUA divulgou bons dados sobre o emprego no país. O número de postos de trabalho subiu 8%, para 5,75 milhões, o mais alto da série histórica, que teve início em 200.
Em nota a clientes, economistas do banco Goldman Sachs projetam que os dirigentes do Fed devem esperar pelo menos até dezembro para iniciar um aumento.
Previsão de efeitos sobre a economia brasileira
Se decidir pelo acréscimo, o FOMC pode causar uma valorização da moeda americana frente ao real, consequência que agravaria o quadro econômico do Brasil após o rebaixamento da nota do Brasil pela Standard & Poor's, na noite de quinta-feira (5).
"Toda vez que essa possibilidade aumenta, o mercado fica nervoso, há realocação das carteiras, que tendem a migrar para os EUA. Vários países devem perder recursos", afirma Lauro Gonzalez, professor de finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP/FGV). "Para o Brasil, em meio às questões políticas, o aumento das taxas complica a situação. Haveria um aprofundamento do grau de incerteza e de riscos no país", explica o professor.
Por outro lado, Ítalo Pedrosa, pesquisador do Instituto de Economia da Unicamp, avalia que a possibilidade de aumento não surpreende. "A expectativa da elevação já está precificada em relação ao mercado brasileiro". O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, acrescenta que "o Brasil está se preparando para a alteração desde a elevação dos juros de nosso Banco Central, no ano passado".
A taxa de inflação é o fator que mais deve pesar contra um aumento já na próxima semana: em 2015, os preços acumularam alta de apenas 0,3% até julho, último mês avaliado. Ítalo Pedrosa afirma que a elevação agora seria um movimento arriscado. "A recuperação americana ainda é lenta e frágil, um aumento ameaçaria sua situação". Para Lauro Gonzalez, "não há clareza se os EUA retomaram o crescimento a longo prazo".
As incertezas em relação à economia chinesa, que vêm causando instabilidade nos mercados, indicam que o momento não é ideal para elevação. O governo chinês desvalorizou o yuan em agosto e uma possível desaceleração na região tem impacto global.
André Perfeito chama a atenção para essa fragilidade no setor financeiro e prevê que o aumento não deve acontecer. "Se há melhora por um lado, por outro, é possível que o aumento detone uma fuga de investimentos em escala global".
Segundo Lauro Gonzalez, é pouco provável, em qualquer momento, que o reajuste não cause uma reação, mas "o fator China seria um argumento para aumentar depois". Ele acrescenta que "quando há esse tipo de tensão, os agentes se tornam mais avessos a riscos. Pode então haver uma reação exagerada que cause efeitos bruscos".
Contudo, alguns representantes do Fed defendem que é preciso antecipar o aumento dos juros em relação à inflação americana. Em agosto, o vice-presidente da entidade, Stanley Fischer, ressaltou que "a política monetária influencia a atividade real com substancial defasagem, não devemos esperar que a inflação volte a 2% para começar o aperto”.
Na sexta-feira passada (4), o presidente da distrital do Fed em Richmond, Jeffrey Lacker, também indicou ser a favor de juros mais altos ao comentar que, embora a inflação em 12 meses continue baixa, a taxa média de crescimento do índice de preços produzido pelo Departamento do Comércio tem sido de 2,2% desde janeiro.
Interpretações sobre os índices divergem
Em artigo publicado pelo jornal The Guardian na segunda-feira (7), o economista Joseph Stiglitz, vencedor do prêmio Nobel em 2001, afirmou que "não há risco de que a economia possa superaquecer tão rápido que o Fed não consiga intervir em tempo de evitar uma inflação excessiva". Para ele, as condições de empregabilidade são piores que os dados demonstram.
Caso o FOMC decida elevar as taxas, será o primeiro aumento desde 2006. Após a crise financeira de 2008, o Fed optou por manter as taxas baixas para tentar impulsionar a recuperação da economia americana.
Jornalista/Repórter. Rubenn Dean. rj. ( O sistema monetário dos países em alta.) O Brasil, e seus problemas.
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