segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Minha Opinião: Jornalista/Repórter. Rubenn Dean. rj Boa essa matéria. O cinema de massas atual, não tem graça alguma, ao contrario de décadas passadas. Hoje nem existe mais cinemas, as salas estão todas em shopping, além das seções caríssimas. " Época boa, já se passou; foi-se o tempo de bons filmes, bons cinemas. "

Sobre jornalismo, cinema, janelas e portas com barra antipânico.


Minha Opinião:
Jornalista/Repórter. Rubenn Dean. rj
Boa essa matéria.
O cinema de massas atual, não tem graça alguma, ao contrario de décadas passadas. Hoje nem existe mais cinemas, as salas estão todas em shopping, além das seções caríssimas. " Época boa, já se passou; foi-se o tempo de bons filmes, bons cinemas. "






Antes de qualquer coisa, eu queria dizer que este convite para falar sobre jornalismo e cinema me rendeu uma pequena crise de identidade. Isso porque, na semana que vem, uma hora dessas, vou falar em outra faculdade sobre jornalismo e político*.
Apesar de ter interesse e de escrever sobre os dois assuntos, não me sinto exatamente um especialista nem de cinema nem de política nem, a bem da verdade, de jornalismo. Então, antes de decidir o que diria neste encontro, tive de responder outra pergunta: que diabos eu sou, que diabos eu faço, pra onde diabos estou indo?
Para encontrar a resposta e não decepcionar ninguém, tentei reconstituir o que me ligava ao cinema; primeiro como frequentador, depois como jornalista.
Posso dizer que tomei gosto pelo cinema um pouco tarde, já na idade adulta.
Durante anos, cinema pra mim foi uma espécie de artigo de luxo. Em casa, e nas casas onde eu frequentava na infância e na adolescência, pouca gente se interessava pelo assunto, a não ser quando havia algum lançamento do tipo “para toda a família”, entre aspas. As pessoas, em geral, gostavam e falavam sobre novela e programas de auditório, e nós, crianças, herdávamos esse habito como por osmose.
Morei até os 18 anos em Araraquara, no interior de São Paulo. De lá tenho raríssimas lembranças dos cinemas da cidade, hoje transformados em igrejas e salões de festa. Da infância, lembro das vezes em que o tio ou a mãe de algum amigo juntava as crianças e nos levava para assistir algum filme dos Trapalhões ou das Tartarugas Ninja.
Da adolescência, lembro de quando chegou Titanic à cidade, e de quando encontrei praticamente todos os meus amigos na fila para conseguir ingressos para as sessões naquele dia. Foi a primeira vez que os via fora do clube ou da escola.
Depois de algum tempo chegaram os shoppings e ir ao shopping era também ir ao cinema, mas eu nunca fui frequentador nem de um nem de outro: shopping, para mim, era dormir no estoque da loja infantil onde minha mãe trabalhava ou ajudar a servir as bandejas da lanchonete que ela montou alguns anos depois. Posso contar nos dedos as vezes em que escapei para assistir algum filme que escolhia aleatoriamente.
Quando vim a São Paulo, perto dos 18 anos, comecei a conviver com pessoas que falavam sobre Woody Allen ou Pedro Almodóvar com a mesma familiaridade com que eu falava de meus jogadores favoritos de futebol.
Ficava admirado com a intimidade dos meus novos colegas com um universo, para mim, desconhecido. Eles não falavam apenas dos filmes, mas em obras e marcas de diretores. 
Na faculdade, as semanas que antecediam a premiação do Oscar, por exemplo, rendiam uma mobilização que eu só via, até então, nas finais de campeonato ou nas retas finais de novela, quando todo mundo opinava sobre quem casaria, quem morreria, quem seria o assassino. 
Mas cinema, mesmo nesta época, era ainda artigo de luxo para um estudante: quando sobrava tempo faltava dinheiro e quando sobrava tempo faltava dinheiro do mesmo jeito.
Foi na biblioteca e no acervo audiovisual da faculdade que comecei a preencher, muito tardiamente, estas e outras lacunas, ainda com filmes em VHS. Não porque tinha uma vontade natural, mas porque queria ter assunto com meus novos amigos.
Mas só depois de formado comecei a pegar gosto por cinema. Ao fim da faculdade, comecei a trabalhar em jornal diário e descobri o quanto o jornalismo poderia ser fonte de angústias e ansiedades.
Descobri também que o melhor caminho para rebater a pilha dos plantões e dos fechamentos era o caminho do bar. Foi quando comecei a beber para conseguir dormir.
Nos dias de folga, tentava me fechar do mundo e evitava ler jornais ou circular pelos mesmos lugares de sempre. Descobri, então, o quanto é difícil sentar em qualquer lugar do mundo e ficar em silencio ou concentrado numa única atividade, como ler ou escrever, por mais de alguns minutos. Principalmente quando você mora em república e têm outras 20 pessoas fazendo festa na sala em plena segunda-feira à tarde.
Para driblar minha vontade natural de me internar no bar em dias de folga, decidi me internar nas salas de cinema, onde podia ficar por horas não em silencio, mas quieto.
Minha vontade não era encontrar uma janela para o mundo, mas vedar as minhas próprias janelas e portas com barra antipânico enquanto alguém me mandava desligar bips, pagers e celulares. Foi assim, nas salas de cinema do circuito Paulista-Augusta, onde eu morava, que encontrei um terreno propício para me desligar, isolar, me encontrar e lidar comigo mesmo e com as minhas questões. Na falta de alguns minutos em silencio, eu ficava seis horas calado numa sala de cinema pulando de sessão em sessão. 
Na época a moda era ter blog, e era ali que desovávamos nossa frustração por não conseguir fazer no jornalismo aquilo que planejávamos quando adolescentes: cruzar florestas, viajar o mundo e tecer longos relatos sobre a verdade definitiva sobre a humanidade em estilo literário. E comecei a escrever, entre tantos textos pessoais sobre infância, memória e futebol, artigos sobre os filmes estranhos que assistia.
Os amigos que gostavam do tema liam, davam pitacos, citavam outros filmes e me ajudavam a construir, pela rede, uma roda de conversa não apenas sobre cinema, mas sobre o que determinado filme suscitava: a desintegração dos sonhos em Denys Arcand, a violência naturalizada de Lars Von Trier, o riso melancólico de Woody Allen, etc.
Enfim eu conseguia pisar num terreno onde me reconhecia. E ir ao cinema passou a ser também meu roteiro favorito de lazer.
Começar a escrever sobre os filmes nos veículos onde trabalhava foi um caminho natural.
O desafio era relacionar aquele tema com outros assuntos e colocá-lo em um contexto. Lembrando hoje, acho que esta foi a forma que encontrei para eu mesmo me entender diante do mundo e dos meus conflitos. Desde o começo escrever, para mim, não era oferecer respostas, mas dividir o peso das perguntas.
Para minha surpresa, as pessoas, não sei se muitas, se identificavam com aquilo. Vivemos, afinal, num mesmo período: confuso, cheio de dúvidas e pobre de certezas. Muitos desses leitores escreviam no próprio post, outros me adicionavam no Facebook, mas em comum todos eles se diziam cansados de uma certa impessoalidade ainda marcante do jornalismo. Uma impessoalidade que resumia anos de história e produção em números de estrelas ou de bonequinhos nos cadernos de cultura.
Como não tinha a pretensão de apontar caminhos nem respostas, me sentia livre, inclusive, para não escrever sobre o filme quando ele me desagradava. Ou escrever contando o que tinha ouvido na cadeira ao lado da sessão. Ou relacionar determinado filme com um livro que estava lendo. Ou com alguma notícia de jornal. Ou com alguma frase dita pelo meu avô que nunca pisou numa sala de cinema.
De novo para minha surpresa, esses textos começaram a ser compartilhados na rede apesar de representarem o oposto do que me ensinavam na faculdade: que nossos textos precisavam ser diretos, objetivos, com títulos claros, impessoais e curtos, de preferência, principalmente se forem publicados na internet.
Mas em um período em que podemos carregar no bolso todo o conteúdo da rede, a relação de tempo e espaço também parece ter se alterado. Já não somos bípedes encurvados na mesa diante da tela de um computador. Podemos ler textões de internet enquanto esperamos atendimento no banco, por exemplo. Ou nas viagens. Ou na cama. Ou mesmo durante um filme mais monótono.
Por isso, se me perguntarem, respondo que na internet me descobri e para a internet quero continuar produzindo.
Por mais que eu admire e leia sempre o que me dizem as críticas com espaços enxutos e definitivos das páginas de jornal, sinto que apenas no caos da internet eu posso fazer o que mais gosto: perguntar. Talvez nunca encontre as respostas, mas o barato da busca é justamente se perder. A vida em rede nos permite isso. Dizem que é um traço do sujeito contemporâneo, esse sujeito tantas vezes retratado à deriva em um filme em tela grande.
Voltei ao interior de São Paulo há mais ou menos um ano. E, se não desisti do cinema em uma região tão pobre de salas alternativas, foi graças à generosidade das distribuidoras dos filmes que descobriram meu endereço e hoje me enviam catálogos, cópias de DVDs ou me disponibilizam as senhas do Vimeo para as chamadas cabines online.
Não consigo acompanhar nem escrever tanto quanto eu gostaria, mas a telinha do computador é hoje a melhor forma de me fechar, vedar janelas e me mostrar o que há do outro lado desse mundo fora de mim.
A forma como assisto aos filmes antes de escrever sobre eles é talvez a forma como nós todos, espectadores, assistiremos aos lançamentos no futuro próximo, com streaming e serviços sob demanda e talvez sem necessidade das salas ou do produto físico. Mas isso, acho, é tema para outro encontro.

Um comentário:

  1. Minha Opinião:
    Jornalista/Repórter. Rubenn Dean. rj
    Boa essa matéria.
    O cinema de massas atual, não tem graça alguma, ao contrario de décadas passadas. Hoje nem existe mais cinemas, as salas estão todas em shopping, além das seções caríssimas. " Época boa, já se passou; foi-se o tempo de bons filmes, bons cinemas. "

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