quinta-feira, 7 de maio de 2015

Negro não surfa?

Por que há tão poucos surfistas negros no circuito profissional?
Minha Opinião: Jornalista/Repórter. Free lancer. Rubenn Dean Paul Alws
Rio de Janeiro. Brasil.




Já surfei e nunca vi discriminação por parte dos surfistas ser negro, vejo sim que a falta de patrocínio é a principal razão de haver poucos negros nos esporte. Uma vez que os anunciantes (em sua maioria marcas de roupas) não associam suas marcas aos consumidores negros, basta ver os anúncios em suas revistas.
E todos sabemos que sem patrocínio e quase impossível se manter no circuito.

Gironso, Olimpinho, Davi Severo e Robson Buiú. Carlos Bahia, Isaias, Quizumba e Guigui. Jojó, Tinguinha e Victor Bernardo. Eis um time de craques com algo em comum. Todos são surfistas brasileiros que se destacaram no esporte – e todos são negros. “O Quizumba era de Santos, preto desta cor aqui”, diz Julio Adler, enciclopédia do surf no Brasil, apontando para o seu iPhone. “Forte pra cacete e arrebentava no outside. Já o Gironso era um dos caras mais respeitados do Arpoador, e o Jojó, bem, o Jojó eu já vi ser ovacionado dentro d’água.”
Brasil é, sem dúvida, o país que mais produz surfistas negros no mundo. Jojó e Tinguinha, por exemplo, foram os primeiros negros a entrar na elite mundial do esporte, em 1994. Já Victor Bernardo, 16 anos, e Guigui (Wiggolly Dantas), 24, são duas grandes apostas para a elite nos próximos anos.
Nunca percebi diretamente nenhuma ação ou reação que fosse interpretada por mim como alguma atitude de racismo, tanto no Brasil quanto lá fora”, diz o baiano Jojó, 47 anos, Top 16 do mundo em 1994 e 96. “Lembro que disputei o US Open em Huntington Beach, na Califórnia, em 1993, e perdi a final para o Sunny Garcia. Tinha ido muito bem e comecei a notar que a torcida toda estava me apoiando. Foi só quando terminou que me explicaram o motivo. Ninguém tinha visto um negro surfar daquele jeito naquelas praias.” Victor Bernardo, campeão brasileiro sub-20, também diz que nunca sofreu preconceito. Pelo contrário: “Acho que nos campeonatos lá fora faço até mais sucesso com as meninas do que os outros surfistas” [risos].
única forma de exclusão noticiada pelos surfistas ao longo dos anos é o localismo – e isso não está ligado à cor da pele. As origens do esporte, entre Taiti, Havaí e Peru, têm o povo polinésio ou andino como protagonista. A palavra haole, inclusive, significa homem branco.
Os missionários brancos chegaram até a banir o surf das ilhas por considerarem uma atividade pagã. O esporte só foi chamar a atenção décadas mais tarde, quando alguns brancos voltaram para a Califórnia com a novidade. Os beach boys popularizaram o esporte e redescobriram o Havaí na primeira metade do século 20 – quando, ao voltar para a ilha, desvendaram uma cena underground de surfistas polinésios, como Duke Kahanamoku.
Assim como ele, gerações de surfistas havaianos marcaram época no esporte, como Dane Kealoha e Montgomery Kaluhiokalani, o Buttons, protagonista de uma das fotos mais significativas da história do surf, clicada por Jeff Divine em 1974, no Havaí. Filho de pai negro com mãe polinésia, Buttons fez história em competições como Pipe Masters.
Não existe nenhum estudo que aponte com certeza o sucesso ou o insucesso do atleta simplesmente pelo fato de ser negro, branco ou asiático”, diz Jomar Souza, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. “O que a gente nota, do ponto de vista prático, observando e assistindo a competições, é que muito provavelmente um fator genético está associado a esses fatos. O atletismo em curta distância, por exemplo, é quase que completamente dominado por negros.”
Para Victor, a questão é cultural e de acessibilidade financeira: “A maioria das crianças negras acaba só jogando futebol, porque é um esporte que dá para improvisar, pegar papel, meia, lata e sair chutando. Agora, mar não é em todo lugar que tem e a prancha é cara”. “O pior é que muitas vezes os próprios negros se acham inferiores e estigmatizam a si próprios achando que são incapazes”, complementa Jojó.
Segundo a psiquiatra Dinah Akerman, da USP, uma pessoa vítima de preconceito pode carregar marcas indeléveis. “Um garoto negro que decide correr em um supermercado para brincar e o segurança o aborda pensando que é um assalto pode ter uma sensação de angústia numa fase em que as pessoas firmam suas defesas psíquicas. Com isso ele vai até pegar onda, mas pode não se identificar com aquele modelo de surfista difundido pelo mundo”, acredita.!?
Para quem acompanha o surf profissional de perto há muitos anos, como Julio Adler, a visão se torna ainda mais clara: “No surf tem uma hora que o cara precisa escolher: ou continua investindo ou vai pra outra coisa. É muito provável que, pela condição social dos negros no Brasil, eles tenham que fazer essa escolha razoavelmente cedo. É muito difícil continuar no surf e ter um final feliz, a maioria é desencanta rápido”. Verdade!?



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